4.11.07

a rosa e as estrelas

O que são estrelas? Para alguns são pontos brilhantes, que cintilam a milhares de quilómetros de distância daqui. Para os astrónomos, cientistas rigorosos, são fenómenos extraordinários, que se podem estudar de diferentes perspectivas. Para os homens de negócios são dinheiro. Para os acendedores de candeeiros, um eterno problema. Para os bêbedos, um enigma indecifrável.
Mas entre milhares de estrelas iguais, escondido num planeta minúsculo, vive um principezinho doce, curioso e ingénuo, que nunca desiste de uma pergunta, que ama a sua rosa e que cativou uma raposa.
Este principezinho, em tempos decidiu conhecer o mundo. Saltar além do horizonte, para encontrar a amizade. Visitou a Terra, um planeta belo e misterioso, mas governado pela lógica absurda dos adultos. Cativou uma raposa que lhe ensinou que o essencial é invisível aos olhos. O importante esconde-se debaixo das aparências, abafado muitas vezes por preconceitos e orgulhos. Descobriu que a amizade não olha a aparências, mas vê através das máscaras com que todos os dias nos escondemos. Por isso é que uma rosa pode ser única entre cinco mil, e um gole de água no deserto pode saciar o coração.
O principezinho encontrou, então, um aviador, perdido no grande deserto do Saara. Cativou-o e tornou-se especial para ele. Agora, para o aviador, as estrelas são os guizos da ovelha que desenhou para o amigo, e o seu som suaviza as saudades, eternas moradoras da sua alma. Sabe que, algures, entre milhares de pontos brilhantes, muito para além do que o olhar consegue alcançar, vive um principezinho doce e ingénuo, e por isso fica feliz apenas por olhá-los. Porque amar é ser feliz na felicidade de alguém, contentar-se com um sorriso, um olhar, um carinho ou mesmo uma lembrança distante.
Quando ganhamos um amigo, ficamos deslumbrados. E o principezinho é isso mesmo. É a pura alegria de um encontro, a certeza de que podemos encontrar a felicidade numa única rosa, num único gole de água ou pôr-do¬-sol. É regressar à nossa infância perdida no barulho e na agitação, ao momento em que olhámos o mundo pela primeira vez. E quando nos conseguirmos libertar de tudo quanto é supérfluo e aprendermos a sentir o essencial, vamo-nos quedar extasiados.
O principezinho voltou para o seu planeta. As saudades da rosa apertaram e ele percebeu que tinha de partir. Mas para trás deixou risos e perguntas, laços e saudades. E isso basta para saber que ele existiu.
Afinal, o que são as estrelas?