14.9.06

O Rapaz do VIolino IV

O dia escorria pela rua, hora após hora e o monte de moedas ia crescendo sobre a boina de flanela. E quando a noite caiu, baixando o manto de escuridão sobre a cidade, a rua ficou deserta. Os comerciantes começaram a baixar os estores das montras das lojas, o rapaz desencostou do peito o violino e guardou-o, assim como ao pano que lhe servia de almofada. Desapertou as cordas do arco e recolheu o monte considerável de moedas no bolso das calças. Fechou a caixa, pôs o violino às costas e desceu pelas ruas, vazias àquela hora, para o passeio do costume. Encaminhou-se para o rio, para o porto, seu abrigo, repisando as mesmas ruelas de todos os dias.
O seu espírito vagueava pela noite, escura e densa, e os olhos não ficavam cegos na escuridão. Sentiu o bafo morno da cidade e a brisa leve de Junho arrepiou-lhe os cabelos do pescoço.
A noite também existe na Ucrânia.

1 Comments:

Blogger dentrodabolinhactimel said...

o rapaz do violino deve ter sido, talvez, a primeira coisa que li escritas por ti!

e lembro me perfeitamente da sensação que me provocara...senti-me como que a encolher, como que a perder-me nos pedaços de tecido da roupa que começava a sobrar...

e hoje, quando li a IV parte senti-me novamente pequenina, novamente recolhida na minha pequenez ao lado da tua grandeza!

todos nós temos um violino, um porto seguro, uns olhos que brilham, e uma boina que recolhe os frutos da nossa música... todos temos uma noite que nos cobre e essencialmente todos temos uma Ucrânia!

e na minha Ucrânia sei que te vou encontrar, sentadinha ora numa escada, ora num pedaço de palco, cheio de luz que ninguém vê mas que eu sinto, sei que é so a nossa Ucrânia, sei que mais ninguém se atreve a respirar, sei de todo o oxigénio que nos cobre às duas recortadinhas nos pedacinhos de vida que são só nossos e que mais ninguém possui!

**** assim vale a pena... ter alguém com quem partilhar um mesmo espaço de tempo e vivências!

We believe in a better way!**

11:59 da tarde  

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