21.6.06

O Rapaz do Violino- II

Era leve e gracioso, polido e brilhante. Tinha-lhe sido oferecido de presente quando fizera apenas seis anitos. Desde então eram companheiros inseparáveis de andanças e desventuras. Conhecia-lhe cada curva, cada corda, cada milímetro do braço. O que tocava, era muito mais do que apenas o vibrar das cordas, mais ainda do que o executar de peças complicadas e difíceis. O violino era a sua voz, o prolongar dos seus sentidos. Era a ponte que lhe permitia comunicar naquele país estranho onde as frases e palavras se enrolavam em tropel numa miscelânea de sons de difícil compreensão.
Ajustou o pano ao pescoço, à falta de almofada melhor e experimentou o som, ajustando as cravelhas. Encostou o violino e, em posição, fez deslizar o arco sobre as cordas. Fechou os olhos e sentiu a música que lhe fluia pelo corpo. Nota após nota, invadia-o uma infinita sensação de paz e o tempo parecia cessar. A sua alma e a do violino fundiam-se numa só e a música pairava à sua volta e insinuava-se nos ouvidos daqueles que passavam.
O som pairava no ar, como um chamamento. Atraía os comerciantes para a soleira da porta e enfeitiçava as pessoas que com o avanço da manhã, iam enchendo a rua.
À volta do violinista ia-se formando um magote curioso, que em silêncio ouvia a música de olhar extasiado e admirava a fusão perfeita entre o rapaz e o instrumento. E quando terminou a primeira melodia ele abriu os olhos, lançou um olhar ao monte de moedas já mais composto e preparou-se para embalar de novo noutra onda.