18.6.06

A Árvore de Cristal I - a semente e o despertar

Quando espreitou, na terra dura e estéril, era rebento
frágil inseguro que desponta ao de leve e lentamente se espreguiça
à luz embaciada
coada pelas nuvens que nunca choravam.
Abriu-se para o desconhecido que era a terra seca e mortiça.
Nasceu de uma semente trazida de longe, de outro universo
embalada e protegida no colo do vento fogoso
que dançava em liberdade pelo mundo e, caprichoso,
moldava em dunas sensuais
a imensidão das areias do deserto.

Germinou da semente viajada
caída na terra árida
Exausta pelo cansaço da sua saga pelo cosmos.
Brotou na terra estéril onde outras sementes fatigadas
caíram sem forças derreadas
e em pó se dissolveram.

Derrotadas.


Alongou-se num único ramo fino e frágil
ensaiando uma carícia meiga ao céu imenso que a cobria.
Estendeu, curiosa, o seu ser leve para o alto.
( as nuvens pesadas passavam e passavam)
Soltou-se do ventre da terra
livre pura cândida
num rasgo de vontade divina.
Indomável e sereno.
Exalou no ar pesado que a encerrava
o seu grito de ousadia,
o clamor arrojado
que a enraizava às areias do deserto,
bramido feroz de rebeldia.

Era ela.
Esmero magistral da criação
Fragilidade força beleza
Celeste iluminada
Misteriosa perfeição.

Era ela.
E os ramos que lentamente se soltavam
Do abraço morno em que se escondiam
Desenrolavam no céu um rendilhado de luz
Prodigiosamente cintilantes.

Era ela.
A prometida.

O rebento de cristal.